GRIOTS – DENILSON COSTA

 

 

Esmagar com as mãos

 

Quando criança era uma alegria, a semana santa a família reunida ao redor do pilão, que saudade a mãe já separava, amendoim, açúcar, a farinha e o sal, uma pitadinha de sal que equilibrava o paladar, o pai sempre dizia sal é o tempero da vida!

Socava o amendoim no pilão fazia aquela mistura, até dar o ponto, tudo feito com muito amor!

Era um momento de reflexão e silêncio. A paçoca de amendoim (do tupi po-çoc, “esmigalhar”) é um doce tradicional brasileiro à base de amendoim, farinha de mandioca e açúcar, típico da comida caipira do estado de São Paulo.

É tradicionalmente preparada no Brasil para consumo nas festividades da Semana Santa e festas juninas. O preparo da paçoca para a Semana Santa, vai além da culinária em si, é um ritual cristão de valorização do amor e da harmonia em família. Há também as paçocas industrializadas que são vendidas e consumidas o ano inteiro. Entre estas, existem as chamadas paçoquinhas de amendoim tipo rolha, que são vendidas com a forma cilíndrica das rolhas e com uma cor que também se assemelha de certa forma à destas.

Os moradores dos grandes centros costumam ouvir falar em paçoca só durante as festas juninas. Preparada com amendoim, farinha de mandioca ou de milho, açúcar e sal, é uma guloseima muito consumida neste período, no caso do Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo, onde a paçoca é usada o ano inteiro.

A origem da paçoca remonta (tem origens antigas) ao período do Brasil-Colônia (Época em que foi descoberto o Brasil), mas há relatos de que o hábito de misturar a farinha de mandioca a outros ingredientes era comum entre os nativos da América, bem antes da chegada do colonizador europeu (os portugueses). O costume de fazer paçoca com amendoim chegou ao Brasil através da colonização, mas a mistura da farinha de mandioca com outras sementes, raízes e temperos já era uma prática comum entre os povos indígenas.

A paçoca é um prato comum em diversas regiões do Brasil; a diferença está na maneira de prepará-lo.

Preparada com carne de sol socada no pilão com farinha de mandioca, salgada com carne seca Típica do Vale do Paraíba, região bastante apegada ás tradições católicas, a paçoca recebe banana em vez da carne durante a Quaresma, ganhando uma versão doce, e há gosto para tudo, imaginar que tenho um irmão que gosta de paçoca com torresmo.

Apesar de popular, é difícil encontrar quem faça paçoca à moda antiga, socada no pilão. O preparo envolve uma série de etapas e cuidados: a torra do amendoim, tirar a pele, socar no pilão com muita paciência e energia, peneirar e voltar a amassar…

As pessoas mantiverem a tradição de fazer o jejum da carne durante a Quaresma, em especial, na Semana Santa, a paçoca integrará (vai fazer parte) do cardápio da época. A igreja não diz para as pessoas comerem paçoca, mas o hábito está relacionado com a cultura da alimentação. Tornou-se tradicional substituir a carne pela paçoca. Hoje, isso faz parte da manifestação da religiosidade de muitos brasileiros.

Foto: Arquivo/Divulgação.

*Denilson Costa é professor universitário, escritor e historiador na cidade de Taubaté-SP e também leciona em São José dos Campos-SP na região do Vale do Paraíba.

A cor Púrpura

 

Eugenia foi uma concepção racista, por intermédio da qual procurava-se justificar o atraso econômico pelo fato de o país possuir uma grande população negra, pobre e doente, os considerados por boa parte da elite médica brasileira, não adaptáveis e inconvenientes ao desenvolvimento econômico. Quando analisamos o conceito de raça usado para segregar e oprimir uma população que, ainda hoje, é invisibilizada, tendo os direitos humanos violados. O racismo estrutural simbolicamente mantém o povo preto no tronco, amarrado muitas vezes em promessas políticas, podemos analisar a lei 10.639/03, onde a obrigação nas instituições não é abordada, como deveria ser é mais fácil entender o BNCC, do que a lei 10.639/03.

As teorias eugênicas no Brasil se consolidaram com o intuito de embranquecer a população, o que hoje pode ser visto como uma mancha na história. Em 1820, com as primeiras regras restringindo o tráfico de escravos, o Brasil incentivou em massa a migração europeia.

Além de trazer mão de obra qualificada para o Brasil, engenheiros sociais desejavam embranquecer o país.

As imigrações portuguesa, alemã, italiana e japonesa foram incentivadas no século XIX. Outras políticas públicas foram feitas no Brasil motivadas pelas teorias eugenistas.

Entre 1853 e 1870, a então capital do Brasil, Rio de Janeiro, passou por uma reforma. O modelo de inspiração era a cidade de Paris, com largas avenidas arborizadas. Mas o centro do Rio era tomado por casarões antigos do período colonial.

As velhas estruturas abrigavam cortiços, casarões onde coabitavam muitas famílias de condição humilde.

Para os reformadores do Rio de Janeiro, a capital do país que desejava se modernizar não poderia ter seu centro tomado por pessoas tidas como “indesejáveis”. Motivados pelas teorias eugênicas, as autoridades do Rio de Janeiro expulsaram os moradores dos cortiços do centro e demoliram os casarões.

A reforma do Rio de Janeiro deu origem ao processo de favelização da cidade.

A Eugênia mostra que os meios pelo sofrimento psíquico, levou as dores de ser negro em um país patriarcal, machista, racista e classista. O artigo 5º da Constituição Federal de 1988 diz que somos iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza. E que a prática do racismo constitui crime inafiançável. Direitos que não são respeitados. Há no Brasil uma coisificação. Negros e negras deixam de ser vistos como pessoas e são tratados como coisas, deixando à mostra uma sociedade cruel e desumana adoecida por padrões e valores deturpados que julgam e condenam pessoas por sua cor, raça e classe.

As mulheres negras lutam contra machismo, racismo e exclusão. Há diferença enorme nas construções sociais de ser mulher e ser mulher negra. Existe uma desigualdade histórica que privilegia a população branca em detrimento da não branca. A nossa sociedade embasa comportamentos racistas e discriminatórios que se perpetuam e seguem ceifando vidas inocentes.

Precisamos lutar por uma sociedade mais justa, que se organiza no sentido de superar as injustiças sociais.

Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação.

*Denilson Costa é professor universitário, escritor e historiador na cidade de Taubaté-SP e também leciona em São José dos Campos-SP na região do Vale do Paraíba.

 

A Primeira periferia paulistana.

 

Conceito de democracia, como disse Aristóteles:

“Isso, então, é uma nota de liberdade que todos os democratas afirmam ser o princípio de sua nação. Outro é que um homem deve viver como ele gosta. Dizem eles, isso é o privilégio de um livre, uma vez que, por outro lado, não viver como um homem gosta é a marca de um escravo. Essa é a segunda característica da democracia, da qual surgiu a reivindicação dos homens de serem governados por ninguém, se possível, ou, se isso for impossível, de governarem e serem governados por turnos; e assim contribui para a liberdade baseada na igualdade “.

No século 19, o soldado negro Francisco José das Chagas foi levado à forca por liderar uma revolta que exigia o pagamento de salários. Caso ocorreu no local onde hoje fica a Praça da Liberdade, no bairro de mesmo nome em São Paulo.

No dia 20 de setembro de 1821, o soldado Francisco José das Chagas seria enforcado no Largo da Forca, onde pessoas que tinham cometido crimes eram condenadas à morte. O local era o mesmo onde hoje fica a Praça da Liberdade, no bairro de mesmo nome em São Paulo.

O crime de Chaguinhas, como o soldado ficou conhecido, foi liderar uma revolta em Santos contra o não recebimento dos salários.

O que não se esperava era que a corda com a qual Chaguinhas seria enforcado arrebentaria três vezes, fazendo com que a população que assistia ao ato começasse a gritar “liberdade”.

Chaguinhas não foi perdoado e foi morto a pauladas. Mas ganhou fama de santo popular e o corpo foi levado para a Capela dos Aflitos, erguida em 1779, que pertencia ao Cemitério dos Aflitos, onde eram enterrados negros, indígenas e os enforcados.

No local em que o soldado quase foi enforcado, as pessoas começaram a acender velas e surgiu a Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados em 1853. Já a Capela dos Aflitos passou a receber, desde então, devotos que iam pedir milagres, colocando papéis em uma porta de madeira e batendo nela três vezes – número de arrebentamentos da corda.

Apesar de essa história ser pouco conhecida, vem daí o nome do bairro.

Liberdade era palco, nos séculos 18 e 19, do Pelourinho, poste em que os escravizados eram castigados, além de receber as primeiras residências das pessoas negras alforriadas.

Só no começo do século 20 o bairro começaria a ser ocupado pelos japoneses, recém-chegados em São Paulo. Esse foi um dos processos de gentrificação da cidade, que expulsou os negros que moravam naquela que foi uma das primeiras periferias paulistanas.

Foto: Ilustração/Arquivo Pessoal.

O que significa Griots!

Chama-se griot (pronúncia: “griô”) ou ainda jeli (ou djéli) um personagem importante na estrutura social da maioria dos países da África Ocidental, cuja função primordial é a de informar, educar e entreter. É uma figura semelhante ao repentista no Brasil, com a diferença de que constituem uma casta (costumam casar-se somente com outros griots ou griottes, seu equivalente feminino), assumindo uma posição social de destaque em seu meio, pois este é considerado mais que um simples artista. O griot é antes de tudo o guardião da tradição oral de seu povo, um especialista em genealogia e na história de seu povo.

Acredita-se que o termo griot tenha surgido da palavra “criado”, em português, idioma que desde o século XV influenciou boa parte da região onde encontram-se tais cantadores. O griotismo, ou seja, a atividade de griot está presente entre os povos mande, fula, hausa, songhai, wolof entre outros (tais povos estão espalhados entre vários países da África, desde a Mauritânia mais ao norte até a Guiné ou o Níger mais ao sul).

*Denilson Costa é professor universitário, escritor e historiador na cidade de Taubaté-SP e também leciona em São José dos Campos-SP na região do Vale do Paraíba.

 

 

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