CNU: APROVADOS COMEMORAM

 

“Nem felicidade descreve”: aprovados no concurso unificado comemoram 

 

Resultados do CNU foram divulgados nesta terça-feira.

 

Jocélio Oliveira passou o dia “nas nuvens” após ser aprovado como Analista em Ciência e Tecnologia no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), pelo Concurso Público Nacional Unificado (CNU). “Nem felicidade descreve. Eu tive um trajeto bem particular. Eu estava trabalhando e fui demitido pouco antes do adiamento do concurso por conta das enchentes no Rio Grande do Sul. Eu não fiz outra coisa além de estudar, até realização da prova”, diz.

Rio de Janeiro (RJ) 04/02/2025 – Jocélio Oliveira foi aprovado como analista do MCTI. Foto: Jocélio Oliveira/Arquivo pessoal.

Nesta terça-feira (4), o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) e a Fundação Cesgranrio divulgaram os resultados individuais dos candidatos do CNU de 2024.

Quando perdeu o emprego, o concurso, que era o plano B, passou a ser o plano principal. “Eu estava estudando como se minha vida dependesse daquilo. Porque passou a ser o plano A. Antigamente era uma aposta, um esforço, mas tendo alguma coisa. Ali passou a ser a principal meta do momento”.

Jocélio, que mora em Recife, disse que nunca pensou em fazer um concurso público, entre outros motivos porque dificilmente as provas chegavam até onde estava. Precisava viajar para outra capital ou para Brasília. “O CNU trouxe, de repente, esse novo desenho. Foi muito bacana tanto para mim como para outras pessoas que que conheço, que pude conversar. Ter o Estado mais próximo, me convidando a fazer parte mais de perto”.

Ele diz que a prioridade foi por uma vaga que pudesse ser exercida em Recife e que ele espera poder ficar na cidade com a família. Com o resultado em mãos, Jocélio aguarda ansiosamente a convocação. “Agora que passou, eu volto a ativar o modo pai de família, né? A gente só quer trabalhar para poder dar qualidade de vida para os nossos. Então, a expectativa é de que a nomeação ocorra rapidamente”.

Para Eduardo Almeida, a aprovação é também uma possiblidade de estar perto da família. Formado em jornalismo, natural de Arapiraca, em Alagoas, ele foi aprovado no Concurso Nacional Unificado no bloco 7 de gestão governamental e administração pública. Ele se inscreveu para seis cargos e foi selecionado na sua primeira opção: IBGE/tecnologista em informações geográficas e estatísticas/comunicação social.

Rio de Janeiro (RJ) 04/02/2025 – Eduardo Almeida foi aprovado no bloco de gestão governamental. Foto: Eduardo Almeida/Arquivo pessoal.

Almeida morou por 20 anos em Maceió até dezembro do ano passado, e hoje reside em Aracaju porque assumiu um cargo na Universidade Federal de Sergipe. “O CNU vai ser o quarto cargo que vou assumir. Não sei ainda qual vai ser meu polo de atuação, mas como estou em Aracaju e toda a minha família, minha esposa e filhos, ficaram em Maceió, pretendo conseguir retornar para Alagoas. O CNU é minha esperança de retornar para Alagoas e para minha casa em Maceió para ficar perto dos meus amigos”, conta.

Estudos em bibliotecas

Rio de Janeiro (RJ) 04/02/2025 – Gabriela Carmo passou para uma vaga no IBGE. Foto: Gabriela Carmo/Arquivo pessoal.

A jornalista Gabriela Carmo foi aprovada para uma vaga no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ela mora em Goiânia e espera conseguir uma alocação em Brasília, para não se distanciar muito da família. Para ela, a aprovação traz segurança frente a um mercado de trabalho difícil, mas também a oportunidade de servir à população.

“O período da pandemia coincidiu com a minha formação, e aí eu vi o mercado da comunicação muito abalado. Depois de um ano, eu estava em um emprego que eu não estava me sentindo muito valorizada, com a remuneração baixa, e foi aí que eu resolvi tentar estudar. Foram três anos de estudo, com muitas decepções, várias reprovações. E o CNU veio como uma oportunidade inédita pela quantidade de vagas, principalmente para a área da comunicação”, diz.

Durante dois anos e meio ela conciliou o trabalho e os estudos, mas nos seis meses anteriores à prova, se dedicou apenas à preparação do concurso, com o apoio da família e reconhece que foi um privilégio que fez diferença. Mas ela acredita que o principal diferencial para aprovação é desenvolver autonomia para os estudos e entender quais conteúdos são mais frequentes nas provas. E para melhorar o foco, ela estudava principalmente em bibliotecas e outros espaços públicos.

Ela aprova o formato da prova: “Eu sei que foi um concurso com muita polêmica, e várias pessoas ficaram frustradas, mas eu acredito que isso é normal, porque foi uma primeira edição de um concurso com essa dimensão, né? Isso aconteceu com o Enem também. As primeiras edições tiveram erros, acertos e a gente conseguiu chegar num modelo hoje que faz sentido. Eu acredito que isso também vai acontecer com o CNU”.

Maternidade e serviço público

A preparação de Eveline Lacerda Lima foi longa. Ela estuda para o cargo de Auditora-Fiscal do Trabalho desde 2014, estudando nos momentos que tinha, entre jornadas de trabalho e cuidados com a casa e família. Nesta terça (4), ela realizou o sonho da aprovação.

“Ver o resultado: aprovada, ver a classificação e tudo mais realmente foi a concretização de uma jornada muito árdua que eu percorri durante longos anos. Foi um misto de emoções. Passa na nossa mente todas as dificuldades, os desafios, principalmente junto com a maternidade. Foi algo muito aguardado”, diz.

O cargo, tão sonhado, vai, segundo Eveline, mudar a forma como vê o trabalho e o próprio país. “É um concurso onde a gente vive a realidade do Brasil, questão de desemprego, de trabalho análogo ao escravo, trabalho infantil, a informalidade. Vai ser inevitável que o cargo dê uma nova perspectiva da realidade brasileira. E junto a isso, vai trazer a realização profissional de agir diretamente na sociedade, tentando intervir e melhorar, né, no que estiver ao meu alcance e também proporcionar a melhor qualidade de vida, né, à minha família e realizar alguns sonhos”, diz.

Rio de Janeiro (RJ) 04/02/2025 – Eveline Lacerda será Auditora-Fiscal do Trabalho. Foto: Eveline Lacerda/Arquivo pessoal.

Eveline mora em João Pessoa, tem uma filha de 2 anos e está grávida do segundo. Ela ressalta que a maternidade foi relevante durante o processo de preparação para a prova. “A jornada de estudo para concurso público, ela já é por si só muito desafiadora, né? Nós tentamos diariamente superar nossos próprios limites, né? De vida social, abdicar de vida social, da vida familiar, muitas vezes da vida profissional, da realização pessoal. E quando isso vem junto com a com a maternidade, tudo isso se intensifica demais”, diz.

Para Eveline é importante que o serviço público considere as mães. Ela aponta, por exemplo, que no edital do curso de formação – necessário em algumas carreiras para que os novos servidores assumam os postos de trabalho – não foi prevista a garantia de direitos das mulheres gestantes e puérperas, que podem necessitar de locais de amamentação e mesmo de adiamento de alguns prazos.

“Eu quero enfatizar e parabenizar a todas as mães que foram aprovadas neste concurso, não só para o cargo do Auditor-Fiscal do Trabalho, mas para qualquer cargo. Parabenizar pela resiliência, pela superação dos seus próprios limites”.

Concurso público

Foram divulgadas hoje 173 listas com a classificação por cargo, de todos os blocos temáticos do CNU, disponibilizadas na área do candidato, no site da Fundação Cesgranrio, banca organizadora do processo seletivo.

Somente os candidatos do bloco temático 8 (nível médio) já podem consultar a classificação definitiva com os resultados finais. Para os cargos dos blocos de nível superior (1 a 7), foram divulgadas as listas provisórias de classificação de cada um deles e as listas de convocação para os cursos de formação de nove cargos.

Em 28 de fevereiro, está prevista a publicação da lista definitiva de candidatos aprovados nos blocos 1 ao 7 que não precisam de cursos de formação e a lista final de convocados para matrícula nos cursos de formação.

O CNU 2024 é considerado o maior concurso público já realizado no Brasil, por isso é chamado de Enem dos Concursos. O certame foi realizado em 18 de agosto do ano passado, simultaneamente em 218 cidades de todas as unidades da Federação, mediante o pagamento de uma única taxa de inscrição. O objetivo foi, segundo o governo federal, democratizar o acesso da população às vagas do serviço público.

Ao todo, foram 2.144.397 inscritos para disputar 6.640 vagas de cargos públicos de níveis superior, médio e técnico para diversas especialidades, em 21 órgãos da administração pública federal. Cerca de 1 milhão de candidatos realizaram as provas objetivas e discursivas.

As remunerações dos novos servidores federais variam de R$ 3.741,84 a R$ 22.921,71. (Fonte e fotos: Agência Brasil/EBC agenciabrasil.ebc.com.br).

Um terço dos aprovados no CNU são pessoas negras, indígenas e PCD

Homens ficaram com 63% das vagas disponibilizadas.

 

Os primeiros dados de perfis de candidatos e candidatas aprovados no Concurso Público Nacional Unificado (CNU) mostram que cerca de um terço são pessoas negras, indígenas e pessoas com deficiência (PCD).

O certame também registra brasileiros aprovados em todos os 26 estados, mais o Distrito Federal para as 6.640 vagas disponibilizadas em 21 órgãos da administração pública federal.

As informações foram divulgadas pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) na tarde desta terça-feira (4), após os resultados individuais de todos os candidatos terem sido disponibilizados na manhã desta terça-feira..

Para a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, o compromisso do primeiro CNU ser democrático e inclusivo foi cumprido. “A lógica da democratização, de ter mais diversidade no serviço público, conseguir ter servidores públicos com a cara do Brasil. Esse era o nosso grande objetivo com esse concurso e conseguimos cumprir.”

Em entrevista coletiva, Esther Dweck, adiantou que, em breve, o MGI anunciará a segunda edição do Concurso Público Nacional Unificado.

Ações afirmativas

O MGI destacou que o CNU trará diversidade ao serviço público pelo perfil dos aprovados. Os dados mostram que as pessoas autodeclaradas negras foram 18,8% e, agora, são 24,5% dos aprovados.

Os candidatos autodeclarados indígenas eram 0,46% dos inscritos no CNU e chegaram a 2,29% dos aprovados.

Já as pessoas com deficiência somaram 2,06% das inscrições confirmadas e os aprovados com este perfil alcançaram 6,79% do total.

A ministra reforçou a importância das ações afirmativas e de inclusão também a partir dos concursos públicos para a transformação do estado brasileiro. Esther Dweck evidenciou que houve aprovação para todas as vagas disponíveis para cotas afirmativas. “A cota já nos dá um piso [mínimo de vagas], o que é muito importante. Mas fomos além disso, inclusive em comparação a proporção de inscritos, sem contar o cadastro de reserva, que tem uma proporção importante.”

Gênero

Quando considerados os dados de gênero dos candidatos aprovados, 63% são do gênero masculino e de 37% são mulheres. Apesar do desequilíbrio nos gêneros dos aprovados, a ministra Dueck destaca que, se comparado a outros concursos, o CNU registrou maior número de mulheres aprovadas que outros certames.

A ministra do MGI lembrou, ainda, que mesmo que o percentual de inscritos no processo seletivo tenha sido maior entre as mulheres, as candidatas também representaram a maior taxa de não comparecimento no dia da prova, em 18 de agosto.

A gestora explica que na divisão dos blocos temáticos, no entanto, o bloco 5, composto de carreiras públicas relacionadas à educação, saúde, desenvolvimento social e direitos humanos, as mulheres equivalem a 60,3% das vagas e os homens, 39,7%.

Na outra ponta, o bloco 2, de tecnologia, dados e informação, os aprovados são, em sua maioria, do sexo masculino (91,6%).

De acordo com a ministra, este é um reflexo da realidade da sociedade brasileira. “Há uma baixa participação de mulheres nestas áreas, assim como nas áreas dos setores econômicos de regulação que, historicamente, também, é baixa a participação de mulheres, seja nos cursos de graduação, seja, também, no mercado de trabalho. Isso se refletiu aqui [no concurso] também”, realçou a ministra.

Localidades

Os aprovados no chamado Enem dos Concursos são de 908 municípios brasileiros. A ministra comemorou a decisão tomada no momento de elaboração desta primeira edição do CNU de interiorizar o concurso, a partir da aplicação das provas objetivas e dissertativas em 218 municípios de todas as 27 unidades da federação. A ministra também comentou o porte dos municípios. “Lembrando que municípios acima de 200 mil [habitantes] são pouco mais de cem [102, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE]. Então, ter 908 municípios significa o concurso pegou pessoas de municípios médios, também, e talvez pequenos.”

Entre os candidatos aprovados, 26% são da Região Nordeste. A região Norte abriga 5,6% dos aprovados. Juntas, as duas regiões somam 31,6% dos aprovados. O Centro-oeste tem 25,6% dos aprovados, destaque para os candidatos do Distrito Federal, que teve a maior participação no concurso e a menor taxa de evasão. O Sudeste – região mais populosa do país – registra 32,9%, aproximadamente um terço dos aprovados no certame. Por fim, o Sul registrou 9,8% dos quais 4,4% são aprovados do Rio Grande do Sul.

A unidade da federação com o maior percentual de aprovados é o Distrito Federal, com 20,12%, seguido por e Rio de Janeiro, 11,3%. Na sequência, aparecem São Paulo, com 10,44% dos aprovados; e Minas Gerais, 9,32%.

Faixa etária

Um em cada sete aprovados no concurso unificado tem entre 25 e 40 anos. Se considerada a faixa etária entre 25 a 35 anos, este grupo equivale a 46% dos aprovados.

A análise inicial do governo federal é que essa distribuição etária seria fruto do represamento, ou seja, da ausência de concursos públicos federais na última década. “Quem se formou dez anos atrás tinha expectativa de virar servidor público e não houve concurso neste tempo. Eles puderam fazer só o concurso agora. Então, houve uma concentração bastante relevante [de candidatos] entre 30 e 35 anos. E tem a faixa de 25 a 30, que é normalmente de pessoas recém-formadas que estão ingressando no mercado de trabalho”, analisou a ministra.

Opções de cargos

Por último, o MGI aponta que 76,8% dos aprovados conquistaram vaga em uma de suas três opções de cargos indicadas no momento de inscrição do certame, no primeiro semestre de 2024.

Os percentuais de aprovados estão distribuídos da seguinte forma:

  • 47,97% foram aprovados para a primeira opção de cargo feita e, portanto, estes aprovados não farão parte de qualquer cadastro reserva do concurso;

  • 17,45% foram aprovados na segunda opção de cargo;

  • 11,39% aprovados na terceira opção.

O MGI considera que estes resultados podem indicar compromisso com a futura carreira e satisfação no trabalho. “Muita gente está bem contemplada com suas escolhas. Então, essa metade que já está bem satisfeita não vai querer mudar de profissão, de carreira depois dessa rodada”, prevê a ministra. (Fonte e foto: Agência Brasil/EBC agenciabrasil.ebc.com.br).

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