RACISMO: ESTA GERAÇÃO PRECISA FALAR MAIS SOBRE ISSO
“O Brasil é um país que sempre praticou o racismo e que também sempre negou praticá-lo”.
Falar sobre racismo gera bastante debate. Nosso objetivo aqui não é apresentar teorias sobre o tema, mais refletir sobre esse assunto tão polêmico, por vezes ignorado mais de fundamental importância para todos os nós.
No Brasil, as causas do racismo estão associadas, à longa escravização de povos de origem africana e a tardia abolição da escravidão, que foi feita de maneira irresponsável, pois não se preocupou em inserir os escravos libertos na educação e no mercado de trabalho, resultando em um sistema de marginalização que perdura até hoje.
O Brasil ao extinguir a escravidão não se criou um sistema de políticas públicas para inserir os escravos libertos e seus descendentes na sociedade. Assim com a promulgação da Lei Áurea os escravos recém-libertos abandonados à própria sorte sem moradia, sem estudo formal e sem emprego foram habitar os locais onde ninguém queria morar, como os morros, periferias formando as favelas. É por isso que o racismo é um dos principais problemas sociais enfrentados neste século.
Segundo o artigo 5º da Constituição Federal de 1988 todos os brasileiros são iguais perante a lei. Art. 5º – todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
Infelizmente no Brasil o direito a igualdade não têm sido efetivado em sua totalidade e, existem alguns grupos sociais que são os mais atingidos. A população negra, por exemplo, representa 54% da população brasileira, é tratada como minoria quando na verdade, é maioria da população, mais é também a maioria entre as pessoas que vivem em situação de pobreza e vulnerabilidade social.
Estudos divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apontam que a população negra ingressa mais precocemente no mercado de trabalho, são as últimas na escala de renda, as primeiras a serem demitidas e estão em maior presença nos trabalhos precarizados (serviço domestico, serviços gerais) e também no mercado informal. O racismo está presente no cotidiano, também manifesta quando usamos expressões racistas que trazem uma conotação de inferiorização da população negra.
Por exemplo, a palavra DENEGRIR que significa “tornar negro”. Normalmente é usado para difamar ou acusar injustiça por outra pessoa, sempre usado de forma pejorativa, ou seja, utilizar esta palavra pejorativa é extremamente racista. HUMOR NEGRO é utilizado para descrever um tipo de humor com piadas de mau gosto com temas mórbidos, sérios ou tabus com tom politicamente incorreto. MERCADO NEGRO, este termo é muito usado para se referir a um sistema de compras e vendas clandestino, ilegal.
Quero chamar atenção também para as frases, “NÃO SOU TUAS NEGAS”, que refere a mulher negra como ”qualquer uma” ou “de todo mundo”, relembra o tratamento às mulheres escravizadas que eram, seguidamente, assediadas e estupradas. A frase deixa explícita que com “as negras pode tudo”, e com as demais não se pode fazer o mesmo, e no tudo está incluso desfazer, agredir, maltratar, abandonar… Portanto, além de profundamente racista, o termo é carregado de machismo. “A COISA TÁ PRETA” associa a palavra preto com uma situação desconfortável, desagradável, difícil ou perigosa. “CABELO RUIM”, “CABELO DE BOMBRIL”, “CABELO DURO” são termos racistas usadas como bullying que depreciam a imagem e o cabelo de pessoas negras. Assim como a “COR DO PECADO” que é utilizado erroneamente como elogio, e associa ao imaginário da mulher negra sensualizada. Em uma sociedade pautada na religião, pecar não é positivo, ser pecador é errado, e ter a pele associada ao pecado significa que ela é ruim. Além destas palavras tem muitas outras e expressões que associam negros a situações vexatórias, degradantes ou criminosas.
As palavras dizem muito sobre a história e a cultura de uma sociedade. Quando expressões como estas se tornam naturais, é a comprovação do quanto o preconceito racial estão incorporados à visão de mundo das pessoas. Entre sutilezas, brincadeiras e aparentes elogios, a violência simbólica se amplia quando expressões como estas são repetidas. É evidente que os 300 anos de passado escravista não se apagam facilmente por isso chamo a atenção para atitudes do dia a dia que reforça o estigma social que a população negra recebeu ao longo dos anos e que nos colocou numa condição de subalternidade, inferioridade.
Ser negro ou preto não é motivo de vergonha, pelo contrário, é motivo de orgulho, porque a população negra é resiliente, faz parte do grupo de pessoas que mesmo diante de tamanha crueldade construiu este país maravilhoso que é Brasil.
O ano de 2020 foi um ano marcado por adversidades como a pandemia do Covid 19 e por diversos protestos contra violência policial de homens negros. Protesto que deram inicio com o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos que reverberou no mundo inteiro seguido de episódios semelhantes, aqui no Brasil. Para a população negra é muito importante ver o povo se indignar, mais precisamos de mudança significativas. Os protestos são importantes, mas não é a única forma de resistência.
No Brasil a população negra esta resistindo há exatamente 132 anos. É muito importante as manifestações populares, mas chamo atenção para que as pessoas tenham mais consciência sobre o que se passa aqui no Brasil, e experimente enfrentar o racismo investindo na mudança de hábitos simples como colocar em prática a empatia e parar de dizer que racismo não existe. Racismo existe sim, exclui, machuca, dói, provoca traumas e deixa sequelas profundas. “NÃO É MIMIMI”. Só porque você não sofre, não pense que não existe. Representatividade importa sim. Ver negros bem-sucedidos cria uma vibe positiva. Ver negros sempre sendo serviçais ou retratados como bandidos reforça o preconceito e impede o desenvolvimento de habilidades essenciais para uma vida vitoriosa.
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.” Nelson Mandela